PROJETO BARRICA X

Um vinho “en primeur” por 50% do seu valor
Nesta décima edição do projeto barrica, a Enoteca associou-se a uma Herdade Alentejana especializada na produção de vinhos de grande qualidade e de quantidade limitada, vinhos que já obtiveram reconhecimento nacional e internacional. Pensamos que apenas assim poderíamos ter um garante de qualidade, para apresentar um vinho diferente, um vinho que reúne lotes de diferentes anos, um vinho sem data de colheita, um Multi-Vintage. O produtor selecionado para o Projeto Barrica X é a Herdade Aldeia de Cima.

Um Alentejo Diferente
No perímetro de 4 quilómetros da herdade, encontramos 5 vinhas distintas com uma zonagem de 22 parcelas de dimensões variáveis - entre 0,30 a 2,90 hectares. Plantados em solos xistosos de baixa fertilidade, a diversidade das 22 parcelas oferece 36 microterroirs, destacando-se a primeira vinha plantada em patamares tradicionais de um bardo no Alentejo - a Vinha dos Alfaiates.
Começamos pela cota mais alta na Serra do Mendro com a Vinha dos Alfaiates de onde se avista o vasto horizonte e onde podemos contemplar, maravilhados, a imensidão das terras alentejanas. Depois passamos ao planalto da Aldeia de Cima, com cotas de 289 a 300 metros, onde se pretende explorar a diversidade de solos com 3 vinhas: Vinha da Família, Vinha de Sant’Anna, Vinha d’Aldeya. No sopé da serra encontramos as courelas da Cevadeira (237 metros de altitude) e da Zorreira (225 metros de altitude), vinhas não aramadas em solo pardo.
Com a intenção de manter a tipicidade da região do Alentejo que produz vinho há mais de 2000 anos, na Herdade Aldeia de Cima é promovida uma viticultura sã e sustentável. Todas as vinhas são certificadas em Modo de Produção Biológico, e enquadradas no Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo. Ainda hoje a vindima é realizada manualmente, com a dedicação e o saber das pessoas da aldeia durante o mês de Agosto.
Foram selecionadas castas indígenas e perfeitamente adaptadas à região, com um encepamento de 65% de castas tintas e de 35% de castas brancas. Na herdade encontramos maioritariamente as castas brancas Antão Vaz, Alvarinho, Arinto, Perrum e Roupeiro e as castas tintas Alicante Bouschet, Aragonês, Trincadeira, Alfrocheiro e Baga.
Começamos pela cota mais alta a 380 metros, explorando a altitude e a singularidade deste relevo acidentado, esta é a mais inusitada e inédita vinha da Herdade Aldeia de Cima. Este relevo, com 18 microterroirs naturais na serra do Mendro, atravessado pela Ribeira dos Alfaiates, inspirou um modelo único e singular no Alentejo: uma vinha plantada em patamares tradicionais, a fazer lembrar os socalcos do Douro vinhateiro, que aqui oferece uma panorâmica estonteante sobre a imensidão da paisagem que faz fronteira entre o Alto e o Baixo Alentejo.
Plantação: patamares tradicionais de 1 bardo / declive de 30 a 40%
Microterroirs: 18
Altitude: 330 a 390 metros
Solos: vermelhos, castanhos e amarelos, silto-argilosos com fragmentos rochosos;
quartzo; argila; micaxisto; xistos avermelhados; xistos amarelos.
Castas: 13% Trincadeira, 25% Alicante Bouschet, 18% Antão Vaz, 12% Aragonês, 8% Baga, 24% Alfrocheiro.
A Vinha de Família é uma reprodução da agricultura antiga, reunindo numa parcela de cerca de 0,1 hectares junto à adega, 11 variedades regionais. Plantadas em quadrados de um metro, instaladas numa forma de condução em vaso, as videiras não aramadas, com aspeto arcaico e rastejante, estão rodeadas pelo mesmo microclima, protegendo os cachos da forte insolação de verão com o seu próprio sistema vegetativo. As parcelas policromáticas, com castas de diferentes aptidões, proporcionam um puzzle vegetal equilibrado e resiliente contra pragas e doenças, permitindo uma lavoura com tração animal e adubação mínima, à base de sementeira anual de leguminosas, e corte de erva, poda e esladroamento. Uma vinha humanizada, mediterrânica, exuberante e com mais carácter, que pretende preservar o património alentejano mais próximo da vida
espontânea, com espécies que sociabilizam entre si, tal como uma família.
Plantação: vinha em vaso
Microterroirs: 1
Altitude: 325 metros
Solos: argilosos, castanhos acinzentados, espessos, com matéria orgânica; fragmentos
rochosos; quartzo; argila; rochas verdes; anfibolitos.
Castas: 9% de cada casta: Trincadeira, Alicante Bouschet, Antão Vaz, Aragonês, Castelão, Diagalves, Moreto, Perrum, Tinta Caiada, Tinta Miúda, Roupeiro.
É num dos vales da Serra do Mendro, onde a incidência dos ventos e a exposição solar é mais reduzida, que se desenhou a Vinha d’Aldeya. É também aqui, numa geometria contígua à Adega da Herdade Aldeia de Cima que foram colocadas as castas brancas de maior frescura e acidez, dando-lhes o habitat perfeito para o seu desenvolvimento.
Plantação: vinha ao alto
Microterroirs: 6
Altitude: 325 a 345 metros
Solos: argilosos, castanhos amarelados, com fragmentos rochosos; quartzo; argila.
Castas: 119% Tinta Grossa, 43% Alvarinho, 19% Antão Vaz, 7% Roupeiro, 12% Perrum.
É no sopé do planalto da Aldeia de Cima que nasce a Vinha de Sant’Anna, uma homenagem sentida à aldeia de Santana e às suas gentes. Num registo de planície, envolvida pelos sobreiros jovens que marcam um legado, são erigidos 4ha num modelo de vinha tradicional com um compasso de 2,50m x 1m. Bafejada por uma exposição solar equilibrada, as tardes quentes são contrariadas pela frescura dos solos, onde pequenos ribeiros vindos da Serra do Mendro, rodeiam a parcela, criando um ecossistema rico e harmonioso.
Plantação: vinha ao alto
Microterroirs: 7
Altitude: 280 a 300 metros
Solos: argilosos, castanhos acinzentados, espessos, com matéria orgânica; fragmentos rochosos; quartzo; argila; rochas
verdes; anfibolitos.
Castas: 33% Arinto, 30% Alvarinho, 13% Aragonês, 24% Trincadeira.
Ainda o sol está baixo e já a vinha desperta com os primeiros raios. A tripla simbiose entre geologia, casta, e clima parece-nos aqui ainda mais forte. Tudo na Cevadeira parece ter adquirido ao longo dos anos um caráter intenso de resiliência, contribuindo para o sentido de nanoterritório. Esta é uma terra geodiversa, onde encontramos muitos Alentejos e muitas paisagens, muitos sabores, muitos viveres diferentes. A enogeobiodiversidade é enorme e forma estes nanoterritórios de caraterísticas únicas, associando a geologia da meia encosta da Serra do Mendro, rica em elementos grosseiros e de fertilidade reduzida, aos fenómenos físicos de drenagem fácil e rápida da água das chuvas e às cores mais claras do solo, que permitem um aquecimento menor das camadas mais profundas.
Plantação: vinha tradicional não aramada / Cultura de Sequeiro
Microterroirs: 2
Altitude: 237 metros
Solos: solo pardo, de materiais soltos de grão médio; baixo teor argiloso; pouco estruturado; quartzo; feldspato; anfibólitos.
Castas: 85% Alfrocheiro, 15% Trincadeira.
O enólogo António Cavalheiro com o apoio de Joaquim Faia na viticultura, desenha o perfil dos vinhos da Herdade Aldeia de Cima, dando especial atenção ao estudo dos micro terroirs da Serra do Mendro. Gonçalo Ramos é responsável pela atividade florestal e produção animal.
o Alentejo para se instalar profissionalmente. Desde 2018, ano em que teve início o projeto, integra a equipa da Herdade Aldeia de Cima, onde assume responsabilidades nas áreas de viticultura, adega e produtos gourmet.
MULTI-VINTAGE
superior ao que seria possível utilizando apenas as uvas de um único ano.
O HAC Multi-Vintage, deve o seu nascimento à dedicação e empenho de um sem número de mãos da equipa de viticultura e da equipa de enologia da Herdade. À frente desta equipa o enólogo António Cavalheiro.
Este HAC Multi-Vintage é composto por 3 lotes, sendo eles:
• Aragonês tinto 2022 da Vinha de Sant’Anna
• Alicante Bouschet tinto 2023 da Vinha dos Alfaiates
• Trincadeira tinto 2024 da Vinha dos Alfaiates
O ano de 2022 ficará marcado na história pelos intensos períodos secos e extremamente quentes vividos antes da vindima. As uvas da Vinha de Sant’Anna foram as primeiras a ser a colhidas, o Aragonês, que com um álcool provável de 14,3%, apresentou-se extremamente são, maduro e com uma concentração que todos os enólogos almejam. Tendo em conta a pouca quantidade, típica de primeiras produções, as massas fermentaram em pequenos depósitos de cimento Nico Velo, onde posteriormente o vinho acabou por estagiar durante um longo período. Uma das características e vantagens destes elementos de estágio é, a preservação do carácter varietal, a promoção de frescura e o polimento dos taninos mais vivos. Desta forma obtivemos um vinho longevo que, na pitada certa, confere ao lote a estrutura e o carácter vincado de um grande vinho.
As temperaturas amenas de 2023 e a parca pluviosidade sentida na Serra do Mendro, potenciaram ciclos vegetativos mais curtos, menores produções e uma vindima muito concentrada no mês de Agosto, de modo associar profundidade sem perder frescura. Na Vinha dos Alfaiates - a mais emblemática da Aldeia de Cima por ter sido erguida em patamares na região do Alentejo – o Alicante foi a última casta a ser vindimada. A par com o Antão Vaz nos brancos, a Alicante Bouschet, na Herdade Aldeia de Cima é a casta tinta mais versátil e fundamental na base de cada lote. É necessária paciência para atingir o equilíbrio natural ao longo da maturação, entre álcool provável e acidez. A familiaridade entre esta casta e barrica é sobejamente conhecida, ainda assim esta casta estagia num Foudre novo de carvalho francês de maior volume. O formato oval e a menor superfície de madeira em contacto com o vinho, permitem a salvaguarda da fruta madura sem comprometer a frescura.
Será, portanto, a grande base do lote do Projeto Barrica.
2024 | A Trincadeira na Vinha dos Alfaiates
O ano de 2024 representou o regressar da definição das quatro estações do ano, trazendo constância e previsibilidade tão querida ao setor agrícola. Neste sentido, o período de vindima iniciou-se na última quinzena de Agosto, sendo a Trincadeira a primeira casta tinta a ser vindimada na Vinha dos Alfaiates. De difícil viticultura, esta casta, por vezes tão mal-amada, é o “sal e pimenta” deste lote. O seu lado irreverente de tanino aguçado e cor aberta, não faz jus à estrutura que apresenta em boca. Tendo em conta o seu carácter facilmente redutor, após fermentação, é conduzida para pequenas Tinajas de terracota que, com uma porosidade larga, permite um estágio relativamente rápido. A solo percecionamos território, geologia, mas é em lote que mostra que faz diferença na promoção de frescura.
A colheita das três castas foi feita manualmente e as uvas foram levadas cuidadosamente para a adega, onde a Alicante Bouschet e a Trincadeira fermentaram em inox e a Aragonês em cubas de cimento nico velo onde também estagia. O Alicante Bouschet estagia em foudres de carvalho francês
e a Trincadeira 2024 estagia em tinajas de terracota.
Em Novembro de 2025 (em data a determinar), será feita a assemblage (lote) das 3 colheitas, aqui irá ser decidido que percentagem de cada vinho integrará o lote do HAC Multi-Vintage. Quando este evento tiver lugar os sócios aderentes ao projeto, serão convidados a participar neste nascimento.
tinto de cor viva, de nariz com notas a bosque, fresco e ligeiro mentolado.
Na boca esperamos que revele bastante estrutura e taninos afinados. No final deverá ter uma textura sedosa, sendo longo e elegante. Será também um vinho que evoluirá bem em garrafa, com um excelente potencial de guarda.

